As palavras são traiçoeiras.
Tantas vezes me colocaram em mal-entendidos. Tantas vezes despontaram nos meus lábios sem que me apercebesse, num rasgo de raiva, ou de frustração ou de tristeza e me traíram...
Quantas vezes? Entre aquilo que penso e o que digo nasce um abismo, de significados e de sentimentos, um abismo que me impede que os outros ouçam ou leiam aquilo que deveras sinto.
Mas ainda assim me agarro a elas, palavras-armadilha, ainda assim me vicio nelas, dependo delas e fascino-me com a sua beleza e o seu poder...
Porque quando as formulo certas, quando caprichosamente se fundem com a minha alma sinto que um pouco de mim chegou a alguém.
Quando fui sorriso e disse sorriso. Quando fui lágrima e disse lágrima. Quando quis ser poeta e escrevi poesia. Quando quis que alguém me conhecesse de verdade e disse as palavras certas. Quando tudo isso aconteceu as palavras foram mais do que um espelho da minha alma, foram minhas.
É por isso que escrevo e preciso de escrever.