Ciclovia



Pessoas. Diferentes. Tantas.
De quem gostamos ou não.
Em quem não reparamos
Ou por quem chamamos
Todos os dias.
Pena e alegria de que existam sempre surpresas.

A arrogância fica tão mal.

Esses caminhos a preto e branco
Que não levam a lado algum.

Olhar para dentro não custa assim tanto.

Médicos de Família

É um facto que em breve serão muitos, tendo em conta a enormidade de vagas. No entanto, aquilo que importa saber é se serão bons.

Daquilo que se pode averiguar nas conversas de corredor na faculdade ou mesmo numa discussão mais séria sobre o tema, uma grande quantidade dos alunos de Medicina foge da Medicina Geral e Familiar como o diabo da cruz . Vive-se até um pequeno clima de pânico ao saber que metade de nós, daqui a alguns fatídicos meses, se verá colocado nesta especialidade.

Eu, talvez privilegiada por conhecer o meio por via familiar, tendo a não compreender esta repulsa dos meus colegas. Será porque não tem o prestígio da Cardiologia? Ou a recompensa monetária da Cirurgia Plástica? Será simplesmente porque os nossos "honrados" assistentes hospitalares falam da Medicina Geral e Familiar como se se tratasse de uma terrível fatalidade, um mundo de leigos e totós?

Para todos, como eu, que acham todas estas considerações subterfúgios de gente que não sabe muito bem o que anda a fazer no curso de Medicina (desculpem o radicalismo) será fácil compreender que a Medicina Geral e Familiar é, na sua essência, a mais nobre das especialidades, aquela que exige do médico a plenitude dos seus conhecimentos não só académicos com relacionais.

Questiono-me se esta forma pouco ética que os senhores doutores professores têm de se referir aos colegas de MGF tem como objectivo desmotivar todos os alunos que eventualmente terão de exerce-la como profissão até ao resto das suas vidas?

Por isso reafirmo, sabemos que os médicos de MGF num futuro próximo serão muitos, mas com esta mania colectiva de desprestigiar a profissão que garantia poderemos ter de que serão bons?

Metáfora

Não desapareças já na madrugada fria.

Deixa-te ficar só mais um pouco,
As nossas mãos dadas, invisíveis.
Esse último vestígio do que quisémos ser
Que eu cerro com força para não mais largar.

Não somos mais do que fantasmas,
Nevoeiro fino aos olhos dos outros,
Coisa unilateral sem explicação.

Já sou só uma metáfora jogada ao vento.
Civilização de um ente só.
Sonho de sucessivas noites em claro.

Tempo de mudanças

E porque já estava na hora deste blogue ter um ar mais descontraído, apresento-vos o novo template.

Espero que gostem!

O mundo que temos

Parece que quando chegam as aguardadas férias diminui a disponibilidade mental e emocional para vir publicar alguma coisa de pertinente. Como eu já desconfiava a minha complexa pessoa encontra inspiração nos momentos de maior tensão, desespero e tristeza e aproveita os momentos de descontração e paz para exercer as mui necessárias actividades de preguiça e de aventura ao ar livre.

Assim, depois de uns diazinhos na cidade berço do nosso Portugal (onde sim, encontrei a megastore do calçado Guimarães :p) regressei à capital para testemunhar a incompetência de alguns nossos conterrâneos, que me obrigaram a ficar mais de duas horas na sala de espera do Hospital da Luz. Enquanto desfrutava desses minutos de tédio e revolta decidi cultivar-me um pouco lendo algumas notícias da actualidade mundial e eis que me deparei com algumas coisas que parecem mesmo mentira mas que infelizmente não são. Aqui ficam, para pensarmos todos um pouco sobre isto:

- No Zimbabwe a taxa de desemprego é de 93% (!!) vivendo o país essencialmente de subsídios internacionais. Perante este cenário o que decide fazer o afamado presidente Mugabe?? Gastar 250 mil dólares na sua festa de aniversário! Esta festa incluiu nada mais nada menos do que 2 000 garrafas de champanhe e um banquete para o qual foram sacrificadas algumas dezenas de vacas e cabras!
- Já na Coreia da Norte as últimas "eleições" (cof, cof) determinaram a vitória de Kin Jong-un com 100% (!) dos votos, que veio suceder ao seu pai Kin Jong-il que por sua vez não era visto pela população há alguns anos devido a uma hemorragia cerebral.

Retrato de um domingo caseiro

photo by Sofia

Vida adiada

É triste a falta de assunto que se instala... Durante dias seguidos transformada numa eremita doméstica. Voluntariamente presa entre quatro paredes como se o mundo lá fora não valesse a pena.

A verdade é que se evita pensar no mundo lá fora. Aliás, evita-se pensar. Passa-se do esforço de concentração, das páginas sublinhadas, das noites mal dormidas e das chávenas diárias de café forte para o automatismo do zapping televisivo, o pequeno prazer de uma almofada macia e tantas vezes a simples ausência de olhar um ponto aleatório do espaço.

A voz humana tem um curioso efeito amenizador, como se materializasse o facto de que a vida do resto da população continua independentemente das nossas desventuras pessoais. Uma certa hipocondria invade-me, depois de milhares de minutos a ler exaustivamente sobre as enfermidades do mundo. Os pequenos prazeres, agora imaginados, parecem mais distantes do que as estrelas.

Parece que o sol afinal decidiu dar um ar da sua graça. Poderia sorrir se os meus músculos ainda se lembrassem como esse movimento é feito. Não estou triste, contudo. Parece-me apenas uma hibernação auto-induzida para poupar os meus mais íntimos ideais e sentimentos da frustração de não poderem ser concretizados durante estes dias de estudo.

E invade-me aquela sensação já conhecida de querer prolongar este texto até ao infinito, para que o momento de desligar o computador e voltar às obrigações da tarde de Domingo nunca chegue, fique para sempre adiado enquanto as letras e as ideias escorrem livremente a partir da ponta dos meus dedos.