E agora...



The Big
  ?

Plim, não espreme!

E eis que me lembro, neste Sábado gélido, de me sentar com o portátil em cima das perninhas e escrever sobre algo que de tão fútil espanta por ser tema do que quer que seja e por ser tão incómodo espanta por não ser mais vezes tema de qualquer coisa.

Falo, como é óbvio, de borbulhas, em particular daquelas que se lembram de aparecer fora do seu tempo. Já a adolescência é o túmulo distante das maluquices que se fizeram e que não fizeram, já todas as outras marcas, mais ou menos purulentas, encontraram o seu lugarzinho especial no baú das recordações, e ainda persistem, sempre, uma ou duas destas irritantes coisinhas, a marcar os momentos de ansiedade e de indecisão.

Não vá a minha cara de ponto de interrogação passar despercebida há que fazer notar os momentos mais difíceis com uma borbulha.

Plim, no meio da cara, para aprenderes a não te enervares com coisas quotidianas. Plim, no meio do queixo, para perceberes que o stress só traz coisas feias


Acorde

As coisas não ditas podem ser tocadas.
O Universo abre-se quando os dedos tocam ou quando me tocam.
É a pele ou é a música?
Será que pensas o que eu penso? 
Quando eu era apenas um animal e não entendia palavras os meus olhos brilhavam com esses sons cheios de sentido.
Tu tocas e eu sigo. Tu tocas-me e eu fico. À espera que o mundo se feche sobre nós.

Se a música tem desencontros eu não os conheço.

Se tocar e tocar não são a mesma coisa então nada sei sobre nada.

Ouvi cantar...


Ouvi o "Ouvi dizer" e soube, no âmago de mim, que nunca antes na vida o tinha entendido. Mas hoje, posto o sol, passado o nevoeiro, percebi que é tudo sobre mim, escrito para mim, de mim, em mim. Seja sobre todos vocês também, talvez, mas para mim é como se me lessem na alma o passado e depois o cantassem com a raiva que eu tinha.
Todos pagamos um pouco... E o mundo acaba mesmo, porque quem lá estava morreu, quem olha para trás agora é outra pessoa qualquer.

O banco

Só para dizer que não entendo porque razão, quando se quer dar alta ao doente e se pretende preencher o motivo, a primeira opção do programa informático é "Entrou Cadáver". E dezenas de doentes depois, lá apareceu o mesmo número de vezes "Entrou Cadáver". Não, não entrou cadáver, nem há-de sair...


Sábado

"Na minha cabeça as coisas confundiam-se, o sonho e a realidade, o medo irracional e a desconfiança legítima, a insegurança natural e o receio quase patológico de voltar a segurar as minhas próprias cinzas nas mãos cansadas.
Os olhos doem de não fazer nada, de fixar coisas que na verdade não existem.
Antes o frio lá fora, a calçada irregular, as caras desconhecidas.
Antes o trabalho, o volante, o cansaço do dever cumprido.
Antes as noites em claro, as noites de poucas horas, as noites sem imagens.
Antes os dias de 12 horas, o trilho ininterrupto de pessoas, a necessidade de estar bem para que os outros se sintam bem."

Chuva

É preciso estar cansada, e eu estou.
É preciso ter vivido, engolido e cuspido muitas situações amargas.
É preciso ter percebido que há marés contra as quais não vale a pena remar.
É preciso ter compreendido que os problemas às vezes são como conduzir num lençol de água: o melhor é não fazer nada, manter a calma e rezar para que as coisas corram bem.
Eu estou no carro, chove, não tenho pressa... Se virem transporte melhor e quiserem sair agora, saiam. De qualquer forma já foi um milagre ter sido feliz.

Outra vez

Cansaço do primeiro dia. Do quase primeiro dia.
E amanhã o paradoxo de ter uma recorrente sensação desconhecida.
Medo de ser colhida no imenso trânsito da cidade, de mais uma vez transpirar a ansiedade e sentir o controlo escorregar-me das mãos.
Conhecem o desejo de que o dia não termine só para que o seguinte não comece?
Antes eu estaria deitada no tapete, derrotada. Agora sou só palavras, os anseios aqui dentro como uma locomotiva que aguarda pela hora da partida.
Disseste-me que só tens medo das coisas que já conheces, daquelas que magoam, daquelas que cicatrizam num perene processo de dor e recordação.
Eu entendo agora que tive medo de muitas coisas que não conhecia, sozinha na minha redoma evitando arriscar um passo fora da zona de conforto. Agora o desconforto está aqui, no chão gasto de ser pisado e eu sei que tenho de sair.
Não há mais indecisão, há a certeza, a de que tem de ser feito e a de que não vai ser fácil.