Insónia!!!

Estou exausta.

E é por estar tão profundamente exausta que não consigo dormir. Fecho os olhos e começa aquela moinha estranha, uma dor que quase não é dor, um peso incómodo que me faz querer perder os sentidos, apagar, porque adormecer simplesmente parece impossível.
Sinto um formigueiro na ponta dos dedos, nos pés, não sei se é real ou se é metade do meu corpo a tentar adormecer, revoltando-se contra a vigília perene da outra metade. Nem me preocupo. Mesmo que quisesse preocupar-me não tinha força, nem ânimo.

Faz de conta que estou a escrever este post sem ter saído da cama, porque ainda me sinto presa a esse estado meio adormecido, com as ideias a orbitarem em volta de uma inespecífica dor opressiva.

Faz de conta que nem sequer andei a navegar por aí antes de abrir o blogue, faz de conta que não senti, pela enésima vez, que sou diferente das outras pessoas, tão diferente que por vezes nem sei se cabemos todos juntos na categoria de pessoas. Ou se calhar é só este friozinho irritante que começa a instalar-se nos meus braços despidos e nos meus pés descalços que me tolda o raciocínio.

De qualquer forma, gostava que este post pudesse ser infinito, que a noite me deixasse escrever tudo o que penso até que nada restasse para dizer, até que eu fosse apenas um lugar vazio de coisas e pudesse adormecer tranquilamente.

Gosto deste torpor da madrugada quase manhã, o estar aqui sozinha de uma forma que nenhuma outra hora permite, a deixar-me invadir por uma sensação egoísta e estranhamente confortável de que não existe mais ninguém no mundo, só eu neste interminável movimento de escrita, imune às opiniões dos outros, às nuances menos desejadas das noites de sábado, às frustrações repetitivas, quase entediantes mas ainda dolorosas, como se alguém insistisse em bater sempre na mesma tecla aguda e desafinada, uma vez e outra, e ainda outra, e ainda outra...

Ao mesmo tempo, no paradoxo desta minha condição tão desesperadamente humana, cresce a vontade que alguém leia e me compreenda. Seja como eu. Seja igual a mim. Para que as minhas palavras não sejam apenas inúteis aberrações do momento, injustiças orfãs num mundo em que, se calhar, quem está mal sou eu.

Filme Mudo

Sou aquilo que ali escrevi outro dia,
Mas perdi o papel e agora não sei
Em que dia nasci e em que dia deixei
De saber em que dia tinha nascido.

E tu que fazes? Eu estudo.
Sou dura de ouvido e intolerante.
Não sei ler lábios, nem quero.
E já não digo: deixa lá, eu espero.

Já disse que perdi o papel,
Ateei-lhe fogo quando não estava ninguém,
Deixei-o escapar pela janela aberta,
Ou qualquer desculpa que soe bem,
Nesse teu filtro de frases feitas.

E tenho só este poema de vão de escada
A mostrar-me que ainda estou aqui
Isso e a música do Zeca Afonso:
"Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será para ti,
Outra que eu souber será para ti"