Policiar o Amor?


Quem já teve o imenso prazer de visitar Paris conhece, certamente, a famosa Pont des Arts. Construída no início do século XIX, durante o domínio de Napoleão I, sobreviveu às duas Grandes Guerras e continua a projectar-se harmoniosamente entre as duas margens do Sena. Nos últimos anos, num acto de romantismo, os casais de namorados colocam cadeados com os seus nomes gravados no corrimão da ponte atirando depois a chave para as águas do rio, em sinal de compromisso.
Em resposta a este fenómeno colectivo, que se tornou um dos símbolos da cidade do amor, a câmara municipal ordenou o policiamento da ponte no sentido de tentar impedir as pessoas de atirarem ao rio as chaves.

A este propósito, ocorre-me analisar a importância dos rituais na vida das pessoas, a forma como se generalizam e perpetuam e como lhes são atribuídos significados incríveis. Desde os rituais de passagem à idade adulta das tribos mais ancestrais do planeta até ao casamento, à nossa volta sempre se cultivaram os eventos simbólicos. Desta forma, toda a comunidade sabe que um determinado indivíduo passou a uma nova fase da sua vida ou tomou uma importante decisão.

Na verdade, nada mudará depois de atirada a chave ao rio. Nenhuma dúvida se dissipará e nenhuma certeza se tornará real. Então, porque é tão importante para tanta gente fazê-lo?