Há já muito tempo que neste blogue nada se passa, todos o abandonámos a começar por mim. Questiono-me acerca do sentido da sua existência, recordo o propósito da sua criação, o empenho dos primeiros anos, o ignóbil esquecimento que lhe tenho devotado nos últimos tempos.
Não me atrevo, contudo, a eliminá-lo. Vou antes abraçá-lo neste seu momento de adormecimento, fechar-lhe a janela para o exterior e vesti-lo de cores intimistas. Desde que existe conheceu-me em várias fases, várias estações do ano, vários humores, várias paixões, desilusões e ocupações. Conheceu diversos leitores: assíduos, tímidos, anónimos, dedicados, oportunistas ou inspiradores. Reflectiu-me em todos os momentos, respeitando o seu nome, deu ao mundo as interpretações que o mundo lhe quis atribuir.
Agora, temo que continue a reflectir-me. Nada de novo nem de antigo para anunciar. Cuidado redobrado com as palavras escritas e com as que não se escreveram. Um céu púrpura que ninguém sabe o que anuncia e um areal macio que acolhe, enquanto o dia seguinte não se revela. Um vale entre montanhas. Paleta celeste, monótona e paciente. Uma personagem que não se esconde nem corre para o mar. Antes escuta o barulho das ondas enquanto aguarda a revelação que sucede a todas as pausas.
O tempo e a vida não estagnarão indefinidamente, em breve nada será como dantes.
O tempo e a vida não estagnarão indefinidamente, em breve nada será como dantes.