No próximo ano... sejamos melhores

Eu era a lagarta frágil e tímida que se demorava nos veios frescos da folha.
Roliça e redundante no universo verde daquela floresta.
Guiada pelo instinto seguia o percurso cintilante das gotas de orvalho até ao inevitável abismo do vértice vegetal.
No fim do caminho a gigantesca disputa, os meus pequenos olhos esbugalhados perante a atmosfera infinita.
Iniciei o árduo trabalho de me enrolar em seda. Rodopiei até à exaustão numa dança fervorosa e geneticamente determinada.
No fim eu era apenas um corpo amorfo e imóvel à espera que os dias passassem. Nem morta, nem viva, no limbo da existência, esqueci quem era e transformei-me em algo diferente.

Inevitável

O tempo passa. Dias, meses, anos. Passa. Acontece.

Constatado esse óbvio facto resta-me a surpresa de perceber que, apesar disso, tentamos enganar-nos prendendo os momentos entre os dedos, segurando-os de forma possessiva como se assim o futuro não chegasse ou persistisse como um presente imutável ou repetitivo.

É curiosa a forma como rotulamos certos desfechos de inevitáveis e ainda assim lutamos contra eles com garras, sangue e lágrimas. Punhos cerrados contra o muro.
- É um muro, bolas! Não se moverá um milímetro perante duas mãos nuas ou uma carga de ombro. Ficará na mesma. Rígido e omnipresente, metros de betão até ao céu, impossíveis de transpor.