Poema do final de Maio
"É onde se esgotam as lágrimas,
Que tu chegas, de mansinho,
Noite, lua, penumbra, breu,
Mesmo sem luz a abrir caminho
Limpas em mim o triste véu.
E assim, calmo descanso da alma,
Realidade estrelada, sem céu,
É este sonho veloz que acalma,
Abrigo calado, para sempre meu."
A época das decisões impossíveis
Eu estava no fim-de-semana das decisões impossíveis, situação em que me vejo com alguma frequência, provavelmente por culpa própria.
Nestas fases nubladas o mundo em redor é como um filme em câmara lenta, cada detalhe de cada momento pode ser uma pista para a solução.
São estes os dias em que olho nos olhos de desconhecidos à procura de outros grandes dilemas ou pequenos sofrimentos, parecidos com o meu. Afasto-me das expressões submissas, de aceitação, e mergulho na espiral utópica de que, talvez, numa hipótese num milhão, o desenlace seja bonito como um conto de fadas.
Assim, visto o meu vestido mental de princesinha e saio de casa saltitando, com um contentamento infundado e uma nuvem de realidades distorcidas a compor o chão que vou pisando. Mais uma vez, o slow motion de umas dezenas de vidas ou aquela sensação de coreografia iminente, como se o mundo inteiro estivesse prestes a entrar, em uníssono, no videoclip da minha vida.
Na verdade sou apenas eu, sentada na plataforma vazia, a ouvir uma música de fundo, sem letra, que embala a monotonia dos meus pensamentos. As premissas do problema, minuciosamente revistas na labareda da consciência, deixam no cestinho das soluções um montinho milimétrico de cinza escura.
Quer-me parecer, feitas as contas, que a ponta deste pequeno país está tão longe de mim como a lua.
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