Eram sete e tal da tarde, não me lembro se chovia ou não.
Fechei a porta com entusiasmo apressado, uma electricidade fulgurante e apaixonada que começava na ponta dos dedos e se estendia ao âmago de mim.
Saltitei sozinha no pequeno cubículo enquanto o elevador percorria todos os andares - 7,6,5,4,3,2,1,0 - contagem decrescente para o teu sorriso rasgado. No carro, o murmúrio rítmico dos nossos corações ocupava o habitáculo espaçoso, e os meus olhos abriam-se mais e mais, no escurinho da noite, tentando captar cada imagem de ti.
Furtivamente, numa feliz e ingénua coincidência, os teus dedos tocavam os meus e a lua crescia, imponente e magnífica, no céu de breu absurdo. Sempre minha testemunha, mística e silenciosa, lançava o luar penetrante sobre as luzes agudas da cidade. Numa sinfonia saltitante, os ruídos roucos da estrada acompanhavam a nossa paixão, miraculosamente arrumada entre o coração palpitante e os dois pulmões, vital como o ar que neles entrava. Falávamos e a alma sugava tudo, na sofreguidão de quem nunca amou assim, na noite lisboeta, na estrada apinhada, no atraso da hora marcada.
Íamos ver um filme com amigos. Sequência de imagens com enredo que, naquele momento, servia de pretexto para nos sentarmos lado a lado, as minhas mãos cautelosamente enlaçadas uma na outra para evitar que se lançassem de forma destemida sobre as tuas, num despudor não planeado.
Quando tudo terminou e as palavras se sucediam no écran, olhei para ti e sei que sorriste. Cá fora, a lua continuava tranquilamente à nossa espera, mãe-guia dos 15 quilómetros do regresso, baptizando com luz o nosso amor fulgurante, último abraço de dois condenados à morte.
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