Uma manhã

"Ele morreu aos 22 anos, numa emboscada na estrada."

Não chores, mulher, não chores mais... Era o nosso filho, sim. Estou só a contar aos doutores como foi.
Temos outros dois. Esses fui buscá-los à prisão, num dia de sorte. Na cela ao lado tinham estado sete homens e nenhum voltou a sair.
E fugimos. Já eu estava cego deste olho, doutora.
Chegámos a Portugal e os anos passaram.
Agora somos só os dois e esta bengala.
Já não há guerra, há só o vazio do que não veio connosco.

Boa sorte para o seu futuro, doutora. Agora vamos e nunca mais nos vai ver. Tenha filhos e queira Deus que não os perca. Siga os seus ideais e durma descansada à noite. Tudo o resto não depende de nós.

1 comentário:

Ana disse...

... as histórias de vida das pessoas fazem-nos pensar um bocadinho sobre quão novos somos, e em tudo o que ainda nos pode vir a acontecer...