Há muito tempo atrás li num livro que o sentido que mais memórias evoca é o olfacto.
Anos depois estudei anatomia do sistema nervoso e percebi que fazia sentido que assim fosse porque as sensações olfactivas são interpretadas por uma parte do cérebro muito antiga em termos evolutivos.
Talvez seja por isso que os cheiros desencadeiam sentimentos tão fortes e difíceis de controlar, impulsos instintivos e até rudes na maneira como nos ocupam o pensamento e nos orientam para um determinado momento ou época do passado.
Talvez seja também por isso que os perfumes são coisas tão pessoais, tão marcantes e tão difíceis de entender sem ser naquela primeira pessoa que os usou perto de nós.
Lembro-me de arrumar uma malinha de coisas que tinha no meu quarto há uns bons meses atrás e de encontrar alguns frascos de perfume, ainda com um bocadinho de líquido no fundo, à espera de serem encontrados no meio da tralha. Cada um deles era um pequeno reservatório de memórias, boas e más, algumas aparentemente irrelevantes mas que se colaram àquele odor e por alguma razão permaneceram naquele pedacinho de cérebro.
É também curioso aquele fenómeno que, penso, reconhecerão: quando um cheiro nos marca (pela persistência ou pela ocasião) passa a isolar-se e a destacar-se de todos os outros, por mais intensos e fortes que sejam.
O olfacto é subestimado, como muitas das memórias que chama à superfície. É imperfeito e inexacto; não se pode gravar para sentir depois, como se faz com uma imagem ou uma música. Traz-nos do fundo da alma (se ela existir) o desejo ou a aversão, a paixão ou a repulsa, o amor ou a raiva.
Laringite
s,f, inflamação da mucosa laríngea de origem infecciosa, doença que costuma manifestar-se com os sintomas típicos de uma infecção das vias aéreas superiores: dor de cabeça, cansaço, dores musculares e febre, a inflamação da laringe provoca uma súbita alteração da voz, com a típica rouquidão ou até com afonia, além de uma sensação de aspereza na garganta que produz rouquidão e tosse seca.
É para eu aprender a não dizer que a mim ninguém me cala!
É para eu aprender a não dizer que a mim ninguém me cala!
Tempestade
O melhor daquele dilúvio era o parque de estacionamento vazio e a espécie de silêncio da queda rítmica das gotas no alcatrão.
O melhor da tempestade eram as lágrimas solitárias do céu em vez das minhas, baptizando tudo à minha volta.
Juro que não vi ninguém durante aqueles 20 minutos.
Juro que da rádio eras tu que cantavas, a mesma música tantas vezes seguidas.
Os ramos das árvores numa agitação molhada, manipulados por uma força maior do que eles, ficaram gravados na minha memória.
Não há nada a questionar quando a verdade nos impele para aqueles acordes mágicos.
Não há muito a acrescentar depois de aprendermos que o som de uma gota de água no vidro é uma nota musical.
(abrem-se com estrondo os portões da memória)
Não restava outra música depois da guitarra estragada, encostada à estante velha, as entranhas expostas ao mundo.
Não havia espaço para a guitarra nova enquanto aquela ali persistisse, o esqueleto de madeira à espera de ser descoberto.
Não havia armário escuro e poeirento onde ela coubesse, onde não chegasse o medo de que ela tocasse sozinha a melodia desafinada do seu segredo.
E como eu gostaria de a despedaçar nas minhas mãos, farpa por farpa, desvendar tudo nuns minutos e depois atirá-la para sempre para os confins do esquecimento, fazer com ela um estrondo no quarto desarrumado para depois ouvir o silêncio.
Nenhum momento se repete. Nenhuma história se repete.
Apostar no cavalo errado
Na linha de partida recortam-se focinhos furiosos.
Um sinal e todos disparam a correr numa confusão de cascos e poeira.
Eu, confortavelmente sentada na assistência, coloco uma cruz à frente de um dos nomes. Tomada a decisão grito e esperneio, salto com euforia no meu lugar, rodopio no meio da multidão quando o focinho se destaca na frente.
Lá para meio do caminho dá-se o desastre: o animal tropeça e cai, dá umas reviravoltas acrobáticas e assim fica, sozinho no pó da pista, a debater-se contra a gravidade e a anatomia.
Eu suspiro e sento-me, dorida na alma como o bicho nas patas.
Infinitas pessoas passam por mim: palmadinha nas costas, palmadinha no ombro, palmadinha nas costas, palmadinha no ombro.
A última mão tem voz e diz o que todos pensaram: Apostaste no cavalo errado.
Um sinal e todos disparam a correr numa confusão de cascos e poeira.
Eu, confortavelmente sentada na assistência, coloco uma cruz à frente de um dos nomes. Tomada a decisão grito e esperneio, salto com euforia no meu lugar, rodopio no meio da multidão quando o focinho se destaca na frente.
Lá para meio do caminho dá-se o desastre: o animal tropeça e cai, dá umas reviravoltas acrobáticas e assim fica, sozinho no pó da pista, a debater-se contra a gravidade e a anatomia.
Eu suspiro e sento-me, dorida na alma como o bicho nas patas.
Infinitas pessoas passam por mim: palmadinha nas costas, palmadinha no ombro, palmadinha nas costas, palmadinha no ombro.
A última mão tem voz e diz o que todos pensaram: Apostaste no cavalo errado.
11
Hoje:
- É dia 11/11/11.
- Este blog atingiu as 10 000 visitas.
- Este blog atingiu as 10 000 visitas.
- Saiu a lista de vagas para a escolha de especialidade.
Abre a boca e fecha os olhos
Nós, os melancólicos com blogs introspectivos, também gostamos de coisinhas doces.
Assim, aqui fica a minha sugestão para hoje:
Assim, aqui fica a minha sugestão para hoje:
A escolha de Sofia
Qualquer semelhança entre o título deste post e o nome de um conhecido filme é pura coincidência. Eu não tenho o talento da Meryl Streep, o meu dilema é menos dramático e dura muito mais do que 150 minutos.
A verdade é que, lá para a primeira semana de Dezembro, mais coisa menos coisa, já com luzinhas de Natal nas ruas e embrulhada num casaco quentinho, eu vou escolher uma especialidade. Até lá a bigorna da (in)decisão paira sobre mim.
Na ordem de escolha estou equidistante do primeiro e do último. Sou aquele meio que ninguém sabe bem se é virtuoso ou se é o primeiro a ficar esmagado.
É penoso. Ridículo em alguns sentidos. Mas penso: pelo menos é uma escolha e não um dado adquirido em relação ao qual já só resta fazer gestão de danos.
ESTOU CANSADA DA GESTÃO DE DANOS.
E a gestão de recompensas, hein? É que a seguir à tempestade nem sempre vem a bonança. Às vezes vem o granizo e um nevão.
Depois de 3 anos e uns meses a ripostar contra o Universo chego a uma brilhante e inútil conclusão: ou ele é estúpido ou não lê o meu blog.
A verdade é que, lá para a primeira semana de Dezembro, mais coisa menos coisa, já com luzinhas de Natal nas ruas e embrulhada num casaco quentinho, eu vou escolher uma especialidade. Até lá a bigorna da (in)decisão paira sobre mim.
Na ordem de escolha estou equidistante do primeiro e do último. Sou aquele meio que ninguém sabe bem se é virtuoso ou se é o primeiro a ficar esmagado.
É penoso. Ridículo em alguns sentidos. Mas penso: pelo menos é uma escolha e não um dado adquirido em relação ao qual já só resta fazer gestão de danos.
ESTOU CANSADA DA GESTÃO DE DANOS.
E a gestão de recompensas, hein? É que a seguir à tempestade nem sempre vem a bonança. Às vezes vem o granizo e um nevão.
Depois de 3 anos e uns meses a ripostar contra o Universo chego a uma brilhante e inútil conclusão: ou ele é estúpido ou não lê o meu blog.
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