Novembro parece estar quase no fim.
Mas o dia em que tudo devia ter terminado foi, afinal, o dia em que tudo começou.
Eu saí de casa e chovia copiosamente. O chapéu de chuva vermelho, vergastado pelo vento, não devia ter saído comigo nesse dia. Voou e morreu à frente dos meus olhos, as varetas incrivelmente torcidas e o escarlate rasgado na lama.
Aconcheguei-me ao casaco e continuei, em direcção ao abismo onde tinha caído dias antes. Desta vez tentei não tremer, apesar do frio cortante. Medi mentalmente os largos metros de queda e recortei na memória o contorno das rochas. Quis fazê-lo sem dor mas a verdade é que cada minuto daquele passeio me trouxe de volta o sabor a sangue na boca e o atrito doloroso dos grãos de areia na cara.
Agora és tu que te vais embora na viagem já planeada, a ausência que eu já conhecia e que ainda assim me dói no peito. Aquele risco branco que vejo no céu, agora que a chuva fez uma milagrosa trégua, serás talvez tu, de partida, deixando para trás um rasto que eu já via dentro de mim.
E lembro-me assim de ti, nestes gélidos minutos de Outono, segurando um botão de rosa na mão fechada para que ninguém veja, deixando cair de quando em vez uma pétala no caminho - "Eu não sou destas coisas, sabes?". E eu sorrio por dentro enquanto aperto a pequena raridade contra a minha cara.
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