A meia-luz, o contorno fluorescente do balcão hipnotiza.
Os vultos adormecidos nas camas altas respiram a um ritmo sincopado, números e linhas a piscarem a seu lado, desumanizando o cenário da madrugada.
No silêncio, a mulher cega segura-me as mãos com força, os olhos vazios e a expressão assustada, beija-me os dedos, pede-me que ali fique mais um pouco na minha noite, que é o seu sempre, e eu fico. Há um inigualável conforto no toque humano, ainda mais nos dedos nodosos e deformados de quem não tem mais ninguém. Dois desesperos diferentes encontram-se no momento improvável das seis da manhã e anulam-se durante um minuto.
Quando as luzes se acendem e as mãos se separam devagar eu afasto-me, os meus olhos mais vazios do que os dela.
Sem comentários:
Enviar um comentário