A Vela

Não fiz até hoje outra coisa que não fosse acender toda e qualquer velinha que me pusessem à frente.

Com parcimónia, dedicação e até alguma condescendência fiz luz no mais escuro breu, usando o mais desengonçado pedaço de cera. 

Pacientemente, sem apressar o normal curso das coisas, aguardei, uma e outra vez, que o pavio se esgotasse, malditas velas sempre finitas, e nada mais restasse além de uma ruína de cera sólida, grosseiramente oval e totalmente irrecuperável.

No escuro, nem me dava ao trabalho de limpar estes sucessivos vestígios do fracasso da combustão, pelo que, cada vez que nova vela surgia, ainda o cadáver da anterior lhe servia de apoio, no agoiro de um triste e repetitivo fim.

Eventualmente, cansam-se as mãos e a alma e a cabeça de levar a cabo tarefa tão ingrata. Vão as velas todas para o lixo e compro um candeeiro.

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