A vegetação luxuriante da ilha a reclamar de volta as construções humanas e nós, como seres obsoletos no meio daquele magnífico local, não ousando sequer tocar a pétala de uma flor ou o ramo de uma árvore com receio de quebrar a mística de tudo aquilo.
Apoio-me apenas na madeira rude, farpas pouco ameaçadoras baptizando os meus antebraços incautos, enquanto tentas enquadrar o que não tem enquadramento. Até nisso tens um encanto raro, o cabelo crespo dos banhos de enxofre e as pernas arranhadas, o intruso mais adorável de todos os intrusos.
A luz vai-se perdendo atrás de uma das mil colinas, pregando-nos partidas, escondendo as maravilhas da ilha até ao dia seguinte. Nós regressamos, guardando religiosamente na memória as fotografias mentais de tudo aquilo.
Ainda agora quando recordo, as hortênsias azuis e o absurdo verde, sinto o mesmo esboço de lágrima que senti na altura e a maravilhosa sensação de quem sabe que acabou de ver a coisa mais bela do mundo.
E até na mais profunda escuridão a ilha me seduz, como um ser colossal que adormece as crias, num silêncio que não é de dúvidas nem de espera. É apenas a noite a chamar-nos para si num ritual de milhões de anos.
Talvez tenhamos ficado na memória das árvores, uma molécula de nós persistindo na quietude e invulnerabilidade daqueles cenários, pois que não há alma que fique a mesma depois de tê-los visto.
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