E assim falam as pessoas desbocadas que, algures no mundo da Medicina, buscam um palco para o paternalismo desapropriado.
É por esta senhora doutora e por muitos outros (alguns tão incrivelmente arrogantes) que os doentes têm medo do médico, escondem coisas, não regressam à consulta e não cumprem os tratamentos prescritos.
Quando pensamos na relação médico-doente tendemos a pensar em formas mais eficazes de melhorar a comunicação e a empatia duma relação, que no meu (ingénuo?) entendimento devia ser, por defeito, cordial e respeitosa. Parece que afinal o trabalho começa muito antes, na aprendizagem de que o doente é uma pessoa e, mais ainda, de que as pessoas, de uma forma geral, merecem respeito.
Por outro lado, começo a acreditar que devia haver uma cadeira obrigatória onde fossem correctamente leccionados os príncipios da humildade e do insight. É que ser médico não é ser Deus, ou criatura invulnerável e omnisciente que lança o seu véu pedagógico sobre os seres inferiores que buscam ajuda no consultório. Um médico não é um familiar próximo, não é um encarregado de educação, não é um pedagogo, não é um agente da autoridade, não é juiz, não é um ser inalcansável com múltiplos direitos e nenhum dever.
Para terminar, devo citar mais uma fascinante frase da doutora, referindo-se a um outro doutor, seu mestre na arrogância e presunção: "as pessoas não mudam, nós é que temos de nos adaptar". Portanto se conhecerem uma pessoa estupidamente cruel e desnecessariamente ofensiva mentalizem-se que ela nunca mudará, tentem simplesmente cumprir as suas expectativas ditatoriais e, com sorte, tornar-se-ão no futuro parecidas com ela.
Ou então, como eu, ignorem os comentários odiosos, aprendam com eles e escolham chegar ao fim do dia felizes por terem feito a diferença na vida de alguém, sem desrespeitar os seus direitos mais básicos. É que (para algumas pessoas isto pode ser uma revelação catastrófica!) para se curar ou ajudar alguém não é preciso ser desagradável ou desinteressado.