E a vida prossegue de forma pacata... sem sobressaltos apesar do novo ano ter chegado.
O meu sofá, que já era novo em 2008, permanece estático, indiferente a estalos de rolhas, cascatas de champanhe e uivos de alegria.
Pacientemente, abre os seus braços às minhas investidas sonolentas e abraça-me em almofadas e mantinhas quentes.
A TV murmura qualquer coisa sobre atentados e genocídios do outro lado do mundo, num sítio onde certamente não há tempo para celebrações e, concretamente, não haveria qualquer razão para que existissem: Novo ano. A mesma triste realidade.
Gostava de retocar o verniz vermelho mas não tenho paciência. De qualquer forma não consigo estar parada o tempo suficiente para que ele seque em condições. Por isso aqui fico, olhando para as abruptas transições de grená escuro, para os declives e encostas de tinta vermelha.
Por outro lado, reparo que passei do conflito armado para o verniz de unhas sem uma ponta de remorso, como se existisse uma qualquer associação pérfida entre sangue e verniz vermelho. Ou simplesmente a constatação da banalidade da morte, do massacre e do sofrimento, da pequenez de cada um de nós perante um mundo que, independentemente dos anos que passam, caminha para a desumanidade.
"Humanidade sintetiza as características partilhadas por todos os humanos, especialmente a capacidade do Homem para ser compreensivo e benevolente."
Nós, os humanos, estaremos extintos antes de desaparecermos. Deixaremos de ser humanos e passaremos a ter uma outra designação mais honesta, mais adequada à nossa natureza auto-destrutiva enquanto espécie.
E, assim, como em todos os anos, enquanto o Mundo parece caminhar para a calamidade total, cada um de nós, na sua microscópica existência, debate-se com todas as forças para ser feliz.
Do alto da minha cadeirinha falo para um gigante Universo de meia dúzia de pessoas... Sempre com a esperança de que as palavras possam mover pequenos grãos de areia ou grandes montanhas.
Parafraseando aquilo que já na minha infância parecia fazer sentido:
7 comentários:
por instantes recuei dois dias...vejo um livro grande, e quatro cabeças a rirem-se para um conjunto de traços negros repletos de boa disposição.
ao mesmo tempo, as noticias remetem-me para as ultimas horas da noite, para o poder hipnotizador da televisão, que mesmo dando coisas estranhas, nos impedia de dormir, mesmo quando já estavamos mais para lá do que para cá ;)
e pro ano ganho eu!! mesmo com vocês 100% sobrios! =)
btw, é verdade que é dificil estar parada o suficiente po verniz secar..principalmente se alguem estiver insistentemente a tentar ligar-te po telemovel :P
***bjinhos e mt bom ano
Estarás tu a insinuar que em algum momento eu não estive sóbria?? :p
***
Viva o novo ano, viva a Mafalda, vivam as pessoas a quem podemos chamar “as nossas pessoas”… Foi uma bela passagem de ano, sim! =)
Que este ano a humanidade se afaste um pouco mais daquilo para onde tendemos e se aproxime sorrateiramente daquilo que devia, efectivamente, ser!
O teu post lembra-me "keep breathing" de ingrid michaelson
=)
caxemire: estou espantada!
ah! eu nao insinuei nada..mas acho que o resultado das corridas dá-te a resposta a essa questão..
"nossas pessoas" Sabes, sou obrigada a concordar.
2008 foi mesmo o ano em que estas ligaçoes se tornaram reais, com vida própria.
um ano marcado por conversas a altas horas da noite, com pequenos globos de neve à mistura, por vários abraços envoltos com lagrimas profundas, pelas garrafas de agua açucarada nos momentos mais dificeis, pelas conversas de café, pelos conselhos dados , pelos conselhos pedidos, pela vontade de partilhar a nossa felicidade.Sofia, apesar de tudo, acho que 2008 foi um ano em grande.
"nossas pessoas" =) sem dúvida...
Sim :) em 2008 eu sei que cresci... talvez mais do que em todos os longos anos anteriores.
Às "nossas pessoas" o meu obrigado!
:)
Enviar um comentário