Chuva

Chovia. Eu estava cansada mas contente. Por uma fracção de segundo fixei o céu. As gotas caíam anarquicamente sobre as casas e sobre as pessoas. Na relva verde um melro saltitava, as penas brilhantes de água, os movimentos enérgicos de regozijo perante o pequeno dilúvio. Eu caminhei, expondo-me à intempérie, e senti as gotas beijarem o meu rosto. Lá em cima as nuvens alimentavam o meu sonho de Inverno, resfriavam a minha pele morna e apaziguavam o meu entusiasmo. Não quis apressar-me. O vento ondulava no meu cabelo húmido e sibilava cantigas ancestrais. Todos viveram em mim... a chuva, o vento, a relva, os pássaros. Ainda vivem, agora que os recordo. Pequenos momentos ensinam muito. Desejo ver além da aparência das coisas, sentir a vida e a profundidade de cada gota de chuva. Estou viva e sei quem sou.

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