Aqui estou.
Pensei em refugiar-me no silêncio do meu quarto para escrever. Já me tinha imaginado a percorrer o corredor semi-iluminado, a arrastar o puff vermelho para perto da janela e a ligar o candeeiro da mesa de cabeceira. Depois, essa ténue luz reflectiria o tom laranja da cortina e da colcha e expandir-se-ia pela divisão como uma enorme chama. Sentada entre as sombras e as labaredas, nesse santuário secreto da vida moderna, escreveria palavras diferentes destas. Talvez toda essa envolvência me deixasse triste, provavelmente despertaria memórias que não quero reviver e este post seria mais melancólico. Se calhar escreveria a palavra lágrima ou mágoa ou saudade ou raiva ou dor ou frustração.
A verdade é que não cheguei a levantar-me da poltrona da sala, não percorri o corredor nem arrastei o puff. O candeeiro do meu quarto continua desligado. Se lá vivem memórias agora, vivem nas cinzas e na penumbra. O meu quarto, íntimo de mim e dos meus desgostos, está agora na escuridão. E assim escrevi este outro post, no fundo tão parecido com o que poderia ter sido. No fundo tão parecido comigo.
1 comentário:
Daquelas fases todas, de todas aquelas regras psicológicas, acho que se esqueceram desta tão importante: ali enfiada entre a tristeza e o novo despertar há uma cautelosa preguiça, uma emoção que custa a sair. Eu chamar-lhe-ia a "fase do atrito": "Eis-me aqui, com o meu problema, mas já nem consigo pensar nele, já nem me levanto nem me do ao trabalho de me dispor em condições que me levem a considerá-lo. Cansei-me."
É também uma fase da exaustão. E agora é só dormir, descansar a cabeça sobre a almofada dos sonhos e perceber, por fim, o novo despertar. =)
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