As decisões moldam, contudo, a forma como fazemos a viagem. Como será o mar de amanhã, agora que tantas decisões foram tomadas?
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As decisões moldam, contudo, a forma como fazemos a viagem. Como será o mar de amanhã, agora que tantas decisões foram tomadas?
Reflexão (de mim para todos)
Na verdade, arrependo-me de ter tido uma atitude um tanto ou quanto autista em algumas fases do curso, de ter dado demasiada importância àquilo que era suposto saber e não àquilo que tinha vontade de fazer. Os bons momentos passam-se em grupo, e não é só quando alguém faz anos ou na altura do Natal, mas sim em qualquer altura, só porque sim, dando o benefício da dúvida às pessoas que nos rodeiam e que tantas vezes não nos damos ao trabalho de tentar conhecer.
Depois de ter enchido o blog da Sandra com estas minhas reflexões (que penso que ela, de alguma forma, também terá tido) aqui coloco o meu próprio post, que não sei se incomoda alguém mas, espero eu, que espicaçe alguém!
Angústias que aqui vos trago
A vida repete-se de forma irónica, uma grande e perene raiz que irrompe do caminho e onde tropeço, inúmeras vezes, como num sonho perverso.
Novo blog!
O Paradoxo da Enfermaria de Medicina
A verdade é que, tenho reparado, nestas horas passadas na enfermaria de Medicina, que a maioria dos doentes vai piorando à medida que o tempo passa e não o contrário. Às vezes sinto-me num daqueles filmes em que o protagonista pára no meio de um corredor e de repente tudo em volta começa a desenrolar-se em câmara lenta, as vozes imperceptíveis a arrastarem-se, os movimentos lentos e as cores meio baças. É nestes segundos que penso: o que estão estas pessoas a fazer aqui, nestas salas de morte lenta, sós entre cortinas e algálias e carrinhos de enfermagem e pessoas de bata que de forma mais ou menos banal fazem disto o seu local de trabalho.
O que estão estas pessoas a fazer em macas nos corredores, umas atrás das outras, empilhadas, sem um pingo de privacidade, as suas queixas a perderem-se no ruído de fundo, as suas almas a perderem-se no cinzento angustiante das paredes.
E quando eu semi-corri para a sala do fundo para dizer à minha doente que ia ter alta e que ia finalmente voltar para casa, ela sorriu e abraçou-me e eu juro que entendi tudo. Nos dois dias anteriores morreram duas pessoas na mesma sala e não era um dia inédito.
Neste sítio onde é suposto curar e aliviar, a morte e o sofrimento são as coisas menos inéditas.
Neverending Tese
E como não deve haver post sem um propósito superior deixo-vos um site indispensável para quem anda nisto cuidados paliativos.
Olá!
E para oferecer alguma coisa neste meu recomeço deixo aqui uma música que me inspira, e que me ajuda quando de facto me sinto "a carregar o mundo nos meus ombros"!
Frustração
Um dia, os senhores da tesouraria/repartição académica dessa maravilhosa faculdade decidiram que o aviso de pagamento das propinas deixava de ser feito através de carta e passava a ser feito pela internet, duma forma muito moderna e actual. Ora, tudo estaria bem nesta historinha se os ditos senhores conseguissem dominar minimamente o mundo da informática e se usassem assim um bocadito daquela capacidade humana que é a racionalidade para entender que talvez fosse melhor haver um plano B além do pagamento pelo site, para o caso de acontecer algum problema.
Peço desculpa por todo este desabafo, mas isto é uma palhaçada!
Era dos Tweets!
Fora este fascínio pelas personalidades mediáticas, o twitter vale pela oportunidade de a qualquer segundo podermos desabafar àcerca das pequenas coisas e construir os nossos dias com pequenas frases que, ao fim de algum tempo, constituem uma mini mas fascinante auto-biografia.
Procurem e encontrem-se no Twitter!
2º Centenário
Um caminho de terra batida em campo aberto, o céu azul claro, as nuvens dispersas. Aqueles dois trilhos que derivam do principal, o primeiro rumo a uma espécie de casinha de hobbit com aspecto pitoresco e outro rumo ao desconhecido, ao infinito ou, se preferirem, ao fundo preto do blog.
Cena retirada de um filme de desenhos animados, ou de uma cena de Senhor dos Anéis, ou de um agradável sonho nosso, ou de um conto infantil ou de um dos níveis do jogo Mario 64... Quem sabe?
A verdade que ninguém pode discutir é que, onde quer que este pequeno e idílico caminho vá dar, o post que agora eu escrevo e vocês lêem é o post número 200.
A todos que caminham comigo neste trilho imaginário o meu obrigado, porque todos juntos levamos palavras e opiniões ao mundo inteiro, projectamo-nos a partir do nosso minúsculo cantinho neste pedaço de chão até locais que nunca poderemos pisar de verdade.
Lembrete!
"Se não têm nada de agradável ou pertinente para dizer permaneçam calados."
"Todos somos de algum modo imperfeitos por isso lições de moral de algibeira e abusos de confiança são francamente dispensáveis."
Obrigado.
Novo Sol
Certamente vou adormecer com o desejo de que o sol de amanhã traga um novo ciclo de coisas boas.
Politiquices
Começo já por dizer que não vi, não por qualquer radical oposição contra o senhor PM mas porque me esqueci que ia dar e porque estava (para variar) a resolver umas coisas da faculdade.
Quando liguei a TV para criar banda sonora para o meu tardio jantar, estava já a equipa de comentadores da Sic Notícias a comentar a dita intervenção. E, devo dizer, que me diverti a ver aquilo. Percebi a diferença entre conteúdo e forma em política. Entendi (aquilo que já desconfiava) que rapidamente se passa de bestial a besta e vice-versa. Fui relembrada das centenas de versões já propostas para o trajecto do TGV e, finalmente, alguém em televisão materializou aquilo que eu sempre pensei: sempre que os partidos trocam de lugar, entre Governo e Oposição, mudam automaticamente de opinião sobre tudo. Entendi ainda que Sócrates está "sozinho numa estrada sem regresso" e que os portugueses são um povo assim um bocado apático que tem muita garganta para criticar mas no fundo está sempre à espera que os outros resolvam por ele e que as coisas se desenrolem a seu proveito sem ser necessária a sua intervenção pessoal.
Na política, como na faculdade e na vida em geral estes jogos de poder são interessantes e complexos.
Para terminar, concordemos ou não com ele, deixo aqui uma referência ao Ricardo Costa, o comentador político da Sic, que faz sempre comentários muito inteligentes e espirituosos e gosta de pôr o dedo na ferida.
Este domingo...
Todo o contexto em que este domingo se avizinhava sugeria que ele iria ser assim monótono, interminável, abafado e sensaborão.
Depois de uma semana de feriados e pontes em que abusámos do absentismo, do calor opulento e dos passeios por aqui e acolá eis que o domingo seria aquele dia fatídico, véspera do trabalho, em que os deveres não cumpridos devem mesmo ser concretizados.
E ele chegou, com um estranho calor de estufa, o céu cheio de nuvens teimosas e cinzentonas que parecem lembrar-nos que esta é a última oportunidade para fazermos todas aquelas coisas que têm de estar prontas para o início da semana.
Nada pude fazer além de cumprir. Mas que tortura! Tenho quase a certeza que hoje preencho critérios para episódio depressivo major, tal é a anedonia, a lentificação e a tristeza que me preenchem desde a ponta do cabelo até aos dedinhos dos pés.
Esta interminável história clínica, aquele monte de artigos, aquele outro monte de anotadas, aqueles abomináveis testes estatísticos, e a minha cabeça de molho neste som de relato desportivo que emana da televisão da sala.
Acho que o calor fez o meu cérebro inchar e agora ele debate-se furiosamente para destruir a caixa craniana. Se eventualmente conseguir o seu objectivo, nada mais terei do que um monte de desértica areia a cobrir o chão e o tampo da mesa.
Digo-vos, perante este domingo acho que até a temida segunda-feira vai saber bem!
Boas-vindas!
Acalmou-se a euforia, a novidade instalou-se, criou raízes e transformou-se em mais uma actividade de um presente monótono. Por alguma tendência supersticiosa nasceu em mim a sensação de que o meu antigo template tinha trazido consigo um mau agoiro para a dinâmica dos blogs (meu e blogues amigos) e que, portanto, era urgente mudar de template para tentar afastar os maus espíritos e regressar aos antigos tempos aúreos da blogosfera local.
Vamos lá ver se resulta. Por enquanto continuam os aperfeiçoamentos estéticos e os pormenores.
Bem-vindos ao renovado "Através do Espelho"!
A Gaiola
Onde nos perdemos?
Onde nos reencontramos?
Cada decisão aproxima-nos de algo que desejamos e afasta-nos de coisas que tínhamos como garantidas. E às vezes dou por mim, cambaleante, com medo que o baralho de cartas caia sobre si próprio, receando dar o passo em frente e evitando ao máximo dar um passo para trás.
Tudo o que aqui figura, de forma mais ou menos explícita, mais ou menos pensada, mais ou menos consciente, é tão auto-biográfico que me assusto... Comigo própria, com as interpretações, com a multiplicidade de siginificados que cada palavra transporta.
Neste ciclo infindável de acções e pensamentos, interdependentes, incessantes, ébrios, custa entender onde ficamos nós, sem cedências nem condicionantes, comandados simplesmente pela vontade própria.
Como é possível que estas mãos fracas tenham construído uma gaiola de aço e vidro?
Rascunho
Mas aí está a magia de se ser um simples mortal entre tantos, uma formiga na vastidão dos terrenos humanos, caminhando célere mas autónoma num trajecto milenar. O poder de ser a gota que agita a placidez das águas, ainda que de um pequeno lago, ainda que só por uns segundos.
E quando as palavras não fazem sentido, mesmo quando as relemos ou quando tentamos enquadrá-las na "big picture"... Quando olhamos para dentro de nós, mesmo cá no fundo, e ainda assim permanecemos na ignorância da grande verdade, resta-nos o obediente teclado, a tinta fluida, os habituais e invisíveis ouvintes das desventuras desinteressantes.
E porque acreditamos nos heróis humanos de todos os dias e na pequena estrela que teima em brilhar no sopé de tudo o resto continuamos a afastar os escombros dos fracassos com as mãos nuas e calejadas, até que o sonho utópico da paz se concretize para todos.
Chocolate Quente
Santo Graal
Como se, na verdade, nada se perdesse, como se tudo fosse um pequeno e impensável milagre, correndo imperceptível debaixo dos nossos olhos, alheio à nossa mente desatenta.
Para quem tem veia de estilista
É verdade que este site tem uma população muito jovem de participantes (lol) mas devo dizer-vos que está extremamente bem feito! Podem construir as vossas peças de roupa com opções quase infinitas, fazer a vossa boutique, logotipo de estilista, leilões com as vossas roupas e anunciam nos locais do site que acharem mais convenientes. Tudo isto utilizando o dinheiro virtual do site (excepto para a criação de roupa porque essa parte é totalmente gratuita e extremamente viciante!)
A fazer:
Reparemos também na carência de comments e de movimentações.
Tentemos associar com o fenómeno de "jet lag" de que tenho vindo a padecer desde que regressei de Cuba.
Coloquemos uma mensagem de condolência pelas horas de sono perdidas.
Concluamos algo de extremamente pertinente.
Tentemos, pela milésima vez, adormecer.
Cuba
Na verdade, e depois de tantos anos volvidos daquele dia em que desceu a serra num tanque blindado, que verá quando se olha ao espelho? Que pensará quando vê as ruas imundas, as casas sem portas, os filhos que pedem esmola nas esquinas? A camisa ensaguentada dos irmãos revolucionários foi comida pelas traças, algures num expositor de museu, enquanto da janela se vêem os estendais das pessoas humildes, nos locais mais inoportunos e inacreditáveis, repletas de t-shirts estampadas com imagens gastas do comandante amigo.
Afinal, o que define os heróis?
A aventura da liberdade é um caminho sem retorno que reclama a vida e a sanidade de quem troca a casa pela floresta e a caneta pela espingarda. Porque às vezes os aventureiros da liberdade, anos depois da revolta consumada, devem ver-se como o reflexo daqueles que odiavam. Num ciclo que parece infinito, em que deixamos de ser quem somos no momento em que conquistamos o desejado objectivo.
Quanto tempo mais para os despojos de mansões, para os "muscle cars" de há 60 anos, para os djambés tocados nas ruas, para os audaciosos "hijos de la revolúcion"?
São os prisioneiros livres. Saudáveis e licenciados vivendo a dois metros da tampa do esgoto.
Será que a história absolve os audazes?
Corropio... (a noite!)
O ser e o não ser que se projectam como sombras na parede, filhas da penumbra que se instala, retratos da vida de alguém que se misturam nos meus.
O perturbador silêncio. Alucinações impossíveis, como clarões coloridos nos meus olhos, uma qualquer embriaguez de sono que desperta a tempestade de ideias.
O vestido verde que não era meu.
Palavras escritas, entrecortadas por tragédias. Vidas que se cruzam sem que se queira.
A total incompreensão destas horas mortas.
Pólen
O mundo inteiro parece tão grande! Cada um de nós não é mais que um pequeno insecto que se esforça por voar até ao centro da felicidade. Asas de seda tecidas com brio e esperança, ano após ano, em busca do doce pólen da vida!
Ciclovia
Médicos de Família
Eu, talvez privilegiada por conhecer o meio por via familiar, tendo a não compreender esta repulsa dos meus colegas. Será porque não tem o prestígio da Cardiologia? Ou a recompensa monetária da Cirurgia Plástica? Será simplesmente porque os nossos "honrados" assistentes hospitalares falam da Medicina Geral e Familiar como se se tratasse de uma terrível fatalidade, um mundo de leigos e totós?
Para todos, como eu, que acham todas estas considerações subterfúgios de gente que não sabe muito bem o que anda a fazer no curso de Medicina (desculpem o radicalismo) será fácil compreender que a Medicina Geral e Familiar é, na sua essência, a mais nobre das especialidades, aquela que exige do médico a plenitude dos seus conhecimentos não só académicos com relacionais.
Questiono-me se esta forma pouco ética que os senhores doutores professores têm de se referir aos colegas de MGF tem como objectivo desmotivar todos os alunos que eventualmente terão de exerce-la como profissão até ao resto das suas vidas?
Por isso reafirmo, sabemos que os médicos de MGF num futuro próximo serão muitos, mas com esta mania colectiva de desprestigiar a profissão que garantia poderemos ter de que serão bons?
Metáfora
Deixa-te ficar só mais um pouco,
As nossas mãos dadas, invisíveis.
Esse último vestígio do que quisémos ser
Que eu cerro com força para não mais largar.
Não somos mais do que fantasmas,
Nevoeiro fino aos olhos dos outros,
Coisa unilateral sem explicação.
Já sou só uma metáfora jogada ao vento.
Civilização de um ente só.
Sonho de sucessivas noites em claro.
Tempo de mudanças
Espero que gostem!
O mundo que temos
Vida adiada
A verdade é que se evita pensar no mundo lá fora. Aliás, evita-se pensar. Passa-se do esforço de concentração, das páginas sublinhadas, das noites mal dormidas e das chávenas diárias de café forte para o automatismo do zapping televisivo, o pequeno prazer de uma almofada macia e tantas vezes a simples ausência de olhar um ponto aleatório do espaço.
A voz humana tem um curioso efeito amenizador, como se materializasse o facto de que a vida do resto da população continua independentemente das nossas desventuras pessoais. Uma certa hipocondria invade-me, depois de milhares de minutos a ler exaustivamente sobre as enfermidades do mundo. Os pequenos prazeres, agora imaginados, parecem mais distantes do que as estrelas.
Parece que o sol afinal decidiu dar um ar da sua graça. Poderia sorrir se os meus músculos ainda se lembrassem como esse movimento é feito. Não estou triste, contudo. Parece-me apenas uma hibernação auto-induzida para poupar os meus mais íntimos ideais e sentimentos da frustração de não poderem ser concretizados durante estes dias de estudo.
E invade-me aquela sensação já conhecida de querer prolongar este texto até ao infinito, para que o momento de desligar o computador e voltar às obrigações da tarde de Domingo nunca chegue, fique para sempre adiado enquanto as letras e as ideias escorrem livremente a partir da ponta dos meus dedos.
Trégua
Perco a magia única e instantânea dos momentos,
Os meus pensamentos toldam-se de lágrimas,
A minha alma torna-se uma planície estéril e seca,
A vida ultrapassa-me, foge demasiado rápido.
Sou só um vulto debaixo das cobertas,
Procurando um instante de silêncio e de vazio,
Uma trégua da avalanche de futilidades que me cercam,
E me cegam das verdadeiras cores da vida.
Viperina
Pois foi assim que acordei hoje, inconsolável perante as agruras da vida e as injustiças de que o mundo se encontra repleto. Sentindo no ar, com minha imaginária língua bifurcada, as más energias e a podridão da sociedade...
E agora pensarão vocês: terá esta recém-transfigurada víbora auto-crítica? Bem, se tiver certamente dará uma forte dentada na própria língua e terá que rastejar agonizante até à Urgência do Hospital de Santa Maria. Até que isso aconteça permaneço com as minhas fantasias de animal de sangue frio, dando poderosas dentadas em todos aqueles que segundo a minha língua bifurcada, merecem.
Esperemos que amanhã acorde na pele de um animalzinho mais pacífico, como um coelhinho, ou uma ovelhinha, ou um golfinho, ou um gatinho... Qualquer coisa que possa terminar em "inho" e que seja mais compatível com a tranquilidade que se exige nestes dias.
Muro da Lamentações
Talvez a leitura póstuma deste texto me desperte um sorriso. Talvez amanhã nem tenha energia para vir até aqui e confrontar-me com as minhas palavras de agonia.
Estranha forma de vida esta. Não admira que certas coisas aconteçam quando a exigência nos obriga a este estilo de vida tão pouco saudável.
Não se preocupem com estes devaneios... Amanhã, quem sabe, perderão uma parte do seu significado.
Notícia de última hora!
Pois é, o tempo considerado normal para uma gestação é de 40 semanas, ou seja, 10 meses! (embora haja, obviamente, um intervalo de valores que se inclui na normalidade).
Acho que merecia mais 0,5 valores por esta constatação, hein?? :p
Valentine´s Day!!!
"And so I'm sailing through the sea
To an island where we'll meet
You'll hear the music, feel the air
I'll put a flower in your hair
Though the breezes through trees
Move so pretty you're all I see
As the world keeps spinning round
You hold me right here right now"
Marés
Pois, elas são muito mais do que nós.
Resta saber se são todas iguais.
Depois do insucesso consumado, tendo a maré escapado airosamente ou esbarrado de forma violenta contra nós recebemos o sábio conselho, lá está, há muitas marés, não te preocupes que hão-de vir outras mais bonitas ou então, não te preocupes que as próximas marés hão-de ser mais meigas (nesta vida, há versões imaginativas para todo o tipo de infortúnios).
E, no entanto, fica em mim a recordação de ter segurado na mão a espuma do mar, de a ver desaparecer e sublimar-se das minhas mãos geladas e regressar já sem matéria ao leito do oceno. Lembro-me do toque gélido das vagas, abrupto e rude nos meus pés descalços. E elas continuavam a afastar-se furiosamente e enrolavam-se naquele infinito de água sem receio de nunca mais serem recordadas.
E, mesmo assim, eu lembro-me.
Para Ti...
Analogias
"As palavras são como as cerejas."
Agora imaginem que eu não gosto de cerejas. Na verdade, o seu sabor súbito e rápido provoca-me um esgar de surpresa desagradável. Tentativas frustradas de gostar pelo menos um bocadinho da fruta que se compara às palavras. Qual será então a sensação de comer uma cereja e não conseguir parar? Será como bombons deliciosos ou bolachinhas mas sem o sentimento de culpa de estar a exagerar nas calorias? Ou será que por ser um prazer consentido (porque dizem que a fruta não engorda) não tem aquele doce travo de pecado e de rebeldia que nos atinge quando ousamos tirar só mais um bombom da caixa? É que às vezes também dizemos só mais aquela palavra, que não devíamos dizer mas que sabe tão bem, aquela que ninguém precisa de saber que dissemos... Como o último bombom da caixa que no final ninguém se acusa de ter comido. E porque às vezes também falamos de mais, surge o arrependimento... Parecido com o leve enjoo e o aumentar de gramas na balança depois de um banquete de docinhos.
Se calhar, as palavras são como os bombons de chocolate...
Dilúvio
Sei que a ouvi, muitos andares acima do chão. A primeira gota de chuva. Aquela que anuncia o temporal, o apocalipse de água. Foi só um "pling" inocente, provavelmente caído num beiral de telhado, ou num mosaico da varanda, ou num rebordo de janela. Mas a seguir veio um dilúvio bíblico que varreu a rua de tudo (ou pelo menos era assim que eu imaginava).
Talvez a minha cabeça me estivesse a pregar partidas. Afinal é madrugada e os olhos teimam em contrariar a minha vontade. Se calhar imaginei o primeiro "pling" e os outros todos também. Se calhar se agora espreitar pela janela vão restar apenas umas míseras lagoas de água, baptizando os pneus dos carros e algumas gotas teimosas escorrendo aqui e ali.
Talvez tudo isto fosse só um pretexto para largar tudo e vir escrever, qualquer coisa sem importância que na minha mente surgisse como uma catástrofe natural que era imperativo documentar.
Infelizmente as tempestades imaginárias não levam com elas as obrigações nocturnas e não me consolam do sono, que já pesa. Se me esforçar mais um pouco talvez consiga...
Introspecção de um pássaro
Olhava para o horizonte daquela forma vaga e enigmática, como quem vê o que lá não está ou busca o que não existe. O vento frio do crepúsculo acarinhava as minhas penas macias, nunca tocadas por uma mão humana. Eu não sei se sou pássaro ou árvore ou ar, sei apenas o que os meus antepassados me deixaram, implícito nos genes de que sou feito, explícito nos meus dias de automatismos e rotinas. Os meus olhos na verdade são vazios, guardo apenas o enigma de não saber quem sou, ou de onde vim. Guardo o enigma de não me lembrar dos meus pais ou dos meus irmãos, de ver-me igual a tantos outros e não me questionar acerca da minha individualidade. Não ambiciono grandes conquistas e o horizonte não é mais do que uma paisagem que admiro à derradeira luz de cada dia.
Desconheço a passagem do tempo. Sei que há sol e lua, sei que há tempo dos ninhos e depois tempo das grandes viagens. Reconheço o chamamento ancestral da minha espécie e sei que devo cumprir o desígnio dos que me antecederam. Não temo a morte nem o futuro porque não sei o que são.
Vejo às vezes aqueles assustadores seres de duas pernas, caminhando lentamente em vestes estranhas. Apenas sei que não são como eu, sei que os seus olhos são estranhos e sei que não seguem o prevísivel e incontornável ciclo da vida. Receio as suas figuras grotescas quando se aproximam. Desdenho-os porque não têm asas e porque não respeitam as leis da Natureza.
Sou apenas qualquer coisa viva. Sinto o meu corpo quente e o coração palpitante. Sei que tenho uma pequena grande missão na minha efémera vida. Sei mas não me preocupo. Voo quando está sol e adormeço quando está escuro. De tudo o resto, não sei nada.
Em construção
Brevemente estará mais bonito!
Querem rir um bocadito??
O meu estudo
The Gryphon: That's the reason they're called lessons, because they lessen from day to day.
(From "Alice's Adventures in Wonderland" by Lewis Carroll)
Cidade das Meias-Palavras
Tudo se presta a mais de uma dúzia de interpretações. As palavras nascem de uma forma e chegam ao seu destino transformadas, adulteradas, alheias ao seu significado original.
São ouvidas e armazenadas em miraculosas redes de conceitos, letras transformadas em impulsos eléctricos, emoções meticulosamente guardadas num mundo de moléculas.
Tento lembrar-me das palavras inteiras, fazendo-as revolver todos os circuitos ao meu alcance na busca incessante do baú das memórias definitivas. Incontornavelmente atinjo o cansaço, os olhos pesam e as pálpebras descaem gentilmente como que fechando a porta a mais desvarios, a mais tentativas dolorosas de forçar aquilo que saturou.
Quero deixar de pensar. Por um segundo. Por um milésimo de segundo.
Mas este circuito busca outro, que encontra outro, que se cruza com outros mais, numa intransigente saga de revisitações. O egoísmo de querer estar sempre alerta.
Lembro-me de dar as mãos.
Se calhar são tudo meias palavras. Se calhar, simplesmente, não entendi.
Algumas pessoas dançam...
Um, dois, três...
Ponteiros que não voltam para trás.
Incidentaloma!
Vou começar por vos apresentar a supra renal, esta bela estrutura glandular situada acima de cada um dos nossos rins (aquela massa disforme amarela) que tem a fantástica função de produzir uma infinidade de hormonas importantes. Assim, se alguma desgraça acontecer com a vossa supra renal podem ter problemas variados como por exemplo: ficar com uma bossa de gordura tipo búfalo na parte de trás do pescoço, estrias violáceas espalhadas pela pele, cara em formato de lua cheia ou, também muito interessante, sinais exteriores de feminilização ou masculinização.
Toda a estupidez inerente a este tema (que me perdoem os estudiosos devotos do Incidentaloma) culmina com esta frase, que passo a transcrever:
Inspirei-me na Lua que tu sonhaste
De regresso aos momentos contemplativos.
E se agora os minutos se esgotam mais rápido do que a nossa vontade e as tarefas se sucedem sem trégua, não podemos deixar de levantar os olhos e ver as lágrimas e os sorrisos dos outros. As breves nuances de cada um de nós, na individualidade da nossa objectiva, no sentimento único que nos invade quando vemos a mesma extasiante lua que todos os outros.
Perdão por ter roubado esta lua, que todos veremos de forma diferente, mas que será sempre bela. Não deixem nunca de olhar.
Pop Art e muito mais...
Se andam a desesperar à procura de artigos decorativos originais lá para casa desafio-vos a visitar o site da Vertigo Store, que tem loja no Porto e que também vende na internet. Preparem-se para um vasto mundo de arte, de todas épocas e para todos os gostos com preços bastante acessíveis.
E mesmo que não estejam a pensar numa remodelação decorativa para os próximos tempos uma espreitadela a este site é sempre uma forma original de passar uns minutos do vosso tempo.
Déja vu
"Agora fique calada!"
Por outro lado, começo a acreditar que devia haver uma cadeira obrigatória onde fossem correctamente leccionados os príncipios da humildade e do insight. É que ser médico não é ser Deus, ou criatura invulnerável e omnisciente que lança o seu véu pedagógico sobre os seres inferiores que buscam ajuda no consultório. Um médico não é um familiar próximo, não é um encarregado de educação, não é um pedagogo, não é um agente da autoridade, não é juiz, não é um ser inalcansável com múltiplos direitos e nenhum dever.
Tree of life!
A árvore da vida
...
Fuga de ideias
O meu sofá, que já era novo em 2008, permanece estático, indiferente a estalos de rolhas, cascatas de champanhe e uivos de alegria.
"Humanidade sintetiza as características partilhadas por todos os humanos, especialmente a capacidade do Homem para ser compreensivo e benevolente."
Nós, os humanos, estaremos extintos antes de desaparecermos. Deixaremos de ser humanos e passaremos a ter uma outra designação mais honesta, mais adequada à nossa natureza auto-destrutiva enquanto espécie.
Parafraseando aquilo que já na minha infância parecia fazer sentido: